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quarta-feira, 18 de maio de 2016

Os pequenos gestos...



Hoje o dia amanheceu chuvoso.
Meu humor não está muito bom, ainda não tive a minha dose de café.
Para alguém que vai a pé para o trabalho não é minha coisa favorita andar na chuva num dia frio e escuro. Além do mais, carrego uma sacola com frutas, água, sombrinha, um agasalho, etc. Muitas mulheres vão saber do que estou falando, sempre carrego coisas a mais do que vou usar, nunca se sabe.
Sinto a chuva bater nas minhas pernas molhando minha calça, ainda bem que uso uma bota pois odeio ficar com o pé molhado, a sombrinha só serve para proteger a cabeça.
Quando vou atravessar uma avenida vejo que o semáforo para pedestre ainda está fechado. Mas uma rapaz bem alto, moreno, mais ou menos 1,80m talvez mais, gordinho, atravessa correndo com o semáforo ainda fechado.
Logo começo a pensar:
– Que estresse é esse, que perigo atravessar no asfalto molhado, corre o risco de cair, não custa esperar o semáforo abrir.
Então olho, do outro lado, no canteiro central, vejo uma senhora idosa bem baixinha, com uma sombrinha, ele pega a sombrinha dela, a pega pelo braço e o coloca no dele, e todo sorridente espera o semáforo abrir e a ajuda a atravessar.
O contraste do estranho casal é muito fofo de se ver. Ele bem alto segurando o braço da senhorinha. Então começo a sorrir também e de repente o meu dia ficou mais claro e aquecido. Atravesso a avenida, continuo meu caminho que agora ficou mais fácil. As nuvens escuras continuam lá, assim como o sol atrás delas e a certeza que hoje vai ser um dia bom.

quinta-feira, 17 de março de 2016

A Praga



Sempre tive medo de gafanhotos...
Não sei se a razão foi algum daqueles antigos filme de catástrofe ou da passagem narrada na Bíblia, mas a minha percepção sobre eles nunca foi muito boa.
Como um ser tão pequeno, quando se junta a um grupo, pode acabar com o trabalho de uma vida inteira em pouco tempo, deixando a terra arrasada e seca para trás.
E depois de tudo, quem fica para trás testemunha boquiaberto e com o olhar incrédulo, como se estivesse perdido, pensando em como recomeçar...

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Com que roupa eu vou...

Eu estava procurando algumas fotos antigas quando me deparei com fotos de formatura. Comecei a pensar no que nós mulheres comuns fazemos para ficar mais bonitas para ir a festas sejam de casamento ou formatura.
Eu que não estou acostumada a usar maquiagem diariamente, apenas batom e às vezes rímel e lápis, comecei a pensar em como é injusto para nós, mulheres, em relação aos homens.
Para eles basta que tomem banho, façam a barba, talvez um gel no cabelo e se colocarem um terno então, voilá, ficam extremamente charmosos.
Pra nós, mulheres, não, começando por escolher o vestido, é uma via crucis, até encontrar aquele que serve, se a cor combina, se não fiquei com barriga.
Depois vem a escolha dos sapatos, tem que combinar com o vestido e a bolsa ou será que não existe mais isso de combinar tudo? E será que vou aguentar o salto até o final?
Então vem o cabelo, solto ou penteado, vou ter que ir até o salão de beleza ou não? E se tiver que pintar o cabelo, será que mudo a cor? Até nisso os homens levam vantagem, os cabelos grisalhos os deixam mais charmosos ainda, vejam só o George Clooney, que parece com vinho, quanto mais o tempo passa mais charmoso fica.
Bem se for ao salão aproveito para fazer manicure e pedicure, aí é a vez de escolher a cor do esmalte, e mais dúvidas a caminho.
Já tenho o vestido, os sapatos e acessórios, manicure e pedicure, os cabelos, falta a maquiagem. Mais uma vez vem a dúvida, destaco os olhos ou a boca? Bem é uma festa de formatura e não um desfile de modas. Mas todas desejamos ficar parecendo uma Diva.
Tudo pronto e vamos à festa.
Horas depois de muito beber e dançar, já estou descalça, as sandálias de salto alto já estão debaixo da mesa, não deu para aguentar até o fim, já estou descabelada e cantando, afinal ninguém é de ferro e a bebida é livre. Tenho que lembrar da próxima vez de levar minhas havaianas. Mas eles não, até nisso levam vantagem, sem o paletó e sem gravata, os botões das camisas semi-abertos continuam sexys.
Talvez daqui a 10, 20 anos vou olhar para as fotos e achar as roupas engraçadas e fora de moda, que estou acima do peso, vou rir muito do penteado, mas com certeza vai bater uma saudade.
Mas valeu a pena, que venham mais formaturas e festas de casamento, que começamos tudo de novo.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Vó de Cima e Vó de Baixo



Eram duas Marias que moravam na mesma rua, mais ou menos a 6 quadras uma da outra que na verdade pareciam mais, pois a subida era muito íngreme.
Na parte de baixo, morava Maria do Carmo, uma senhora baixinha, um pouco rechonchuda, de rosto redondo, apesar de ser tanto rígida era muito simpática. Adorava bordar e seus bordados eram impecáveis assim como sua casa. Tudo tinha seu devido lugar, arrumadinho, tudo muito limpinho, cheia de bibelôs em cima dos móveis.
Criada em São Paulo dava para ver que tinha um pouco de cultura em seus diálogos, apesar de ter estudado só até a quarta série. Gostava também de se corresponder com amigos de fora. Em sua casa andávamos quietinhos, pé ante pé, como que pisando em ovos, até parecia que éramos bem comportados.
No seu quarto havia uma cômoda onde repousava um porta-retratos, a fonte de uma brincadeira entre mim e meu irmão mais velho, de um lado minha foto e do outro a dele. A brincadeira era a seguinte: quando eu a visitava eu virava o lado com minha foto para a frente e quando ele a visitava virava o lado com a foto dele, assim eu sabia se ele tinha passado ou não pela casa dela e vice-versa.
Maria Teodora morava na parte de cima, uma senhora baixinha e magrinha, usava sempre o cabelo preso em um coque e vestido abaixo dos joelhos. Passava as tardes crochetando na pequena varanda, esperando os netos chegarem da escola com bolinhos de chuva fresquinhos ainda quentes, e cobertos com açúcar.
Criada na “roça” tinha conseguido estudar só até a primeira série, por imposição do pai, um sujeito um tanto quanto antiquado que achava que mulher não precisava estudar. Até aprendeu a desenhar seu nome e a ler um pouco, mas a mágoa de não ter aprendido mais estava lá. Porque não procurou aprender depois eu não sei. Mas sempre que um neto chegava ela pedia para que lesse alguma bula ou escrevesse algo que precisava e dava pra ver que ela tinha orgulho de saber que todos podiam fazê-lo.
Em sua casa a tropa toda entrava correndo, um atrás do outro. O cheirinho de café impregnava o ar assim como o da “janta” que já estava adiantada no fogão. Era sempre uma algazarra.
Apesar das diferenças entre elas havia algo em comum que todos nós gostávamos, ambas adoravam contar histórias.
De onde surgiram os apelidos Vó de Cima e Vó de Baixo eu não me lembro, mas eram duas Marias, que moravam na mesma rua...



Upstreet Grandma and Downstreet Grandma


Once upon a time, there were two Marias who lived at the same street, more or less 6 blocks one from another, sometimes it seemed more  because the street was too steep.
Down the street, lived Maria do Carmo, a tiny lady, slightly plump, with round face, despite being a bit stiff was very friendly. She loved to embroider and her embroidery was clean as well as her home. Everything had its place, tidy, all very squeaky clean, full of knickknacks on the furniture.
Raised in Sao Paulo, we could see she had some culture in her dialogues, despite having studied only up to the fourth grade. One of her hobbies was to write to friends from other towns. At her home we walked quietly, tiptoe, as if walking on eggshells, looking like we behaved.
At her room was a dresser where rested a picture frame, the source of a joke between me and my older brother, my picture was on one side and at the other side was his picture. The joke was this: when I visited her I turned the side with my picture to the front and when he visited her he turned the side with his picture to the front, so I knew whether or not he had passed by her house before and vice versa.
Maria Teodora lived up street, a tyni skynny lady, always wore her hair in a bun and a dress below the knees. She used to spend the afternoons crocheting at the small porch, waiting for the grandkids to arrive home from school with freshly baked cookies still warm  and covered with sugar.
Raised at the countryside, she had only studied up the first grade, because her father, an old fashioned man, thought that women did not need to study.  She could draw her name and read a little bit, but the sorrow of not having learned more was there. I don´t know why she didn´t try to learn after that. When a grandchild arrived at her home she used to ask him or her to read or to write something she needed and we could see that she was proud that everyone could do it.
At her home, the whole troop came running, one after another. The smell of coffee filled the air like the dinner that was already attempted in the stove. It was always fun.
Despite the differences between them, they had something in common that we all loved, they both loved to tell stories.
I can´t say why we call them Upstreet Grandma and Downstreet Grandma, but once upon a time, there was two Marias who lived at the same street...

domingo, 30 de março de 2014

O andarilho


Um andarilho caminha solitário por uma estrada.
O sol está nascendo com matizes de amarelos, vermelhos e azuis, a sombra das árvores traz um misto de quietude e frescor, pequenos esquilos passam correndo, e o cheiro das flores impregnam o ar.
Pelo caminho um riacho com águas refrescantes e pássaros fazendo algazarra.
Ao longe um pequeno povoado, casas com paredes coloridas juntas umas das outras, crianças correndo felizes, cachorros pequenos e espertos que brincam com elas.
O burburinho da feira livre, os cheiros das frutas que exalam pelo ar.
A mulher com olhar tristonho que espera na janela, uma longa espera que vai acabar...

A lone hiker walks along a road. 
The sun is rising with hues of yellow, red and blue, the shade of the trees brings a mix of stillness and freshness, small squirrels are running, and the smell of flowers permeate the air. 
On the path a stream with cool waters and birds whooping. 
In the distance a small village with houses in colorful walls next to each other, happy kids run, smart little dogs play with them. 
There´s a murmur from the street fair, the scents of fruits that exude the air. 
A woman with sad eyes waiting at the window, a long wait that will end ...